O PS alcançou a maioria absoluta nas legislativas de domingo e uma vantagem superior a 13 pontos percentuais sobre o PSD, numa eleição que consagrou o Chega como a terceira força política do parlamento.
Uma Vitória Histórica do PS
O Partido Socialista, no governo desde 2015, venceu as eleições legislativas de Portugal e garantiu, sozinho, maioria absoluta no Parlamento. Desde 1976, houve apenas quatro maiorias absolutas em Portugal, sendo quatro do PSD e uma do PS, em 2005.Em segundo lugar, vem o Partido Social Democrata (PSD), liderado por Rui Rio, com 27,8% dos votos, levando 71 cadeiras.
O Crescimento da UltraDireita
O “Chega”, de extrema-direita, cresceu e despontou como a terceira força, com pouco mais de 7% dos votos e 12 assentos no parlamento.
O “Novo português”, o Iniciativa Liberal, criado em 2017, vai estrear com uma bancada de 07 parlamentares.
Derrotas Eleitorais
O Bloco de Esquerda (BE) e a Coligação Democrática Unida sofreram um duro revés e viram seu eleitorado e bancada parlamenres serem reduzidas.
O PAN com 1,53% terá um deputado, e o Livre, com 1,28% também um deputado. O CDS-PP alcançou 1,61% dos votos, mas não elegeu qualquer parlamentar.
Outros a sofrerem revezes foi o CDS, que deixou de ter qualquer lugar no Parlamento (o que acontece pela primeira vez na história do partido), e o PAN, que tinha quatro deputados no hemiciclo e com 99% dos votos contados ainda não tinha conseguido nenhum lugar no Parlamento
Os Resultados do Bloco de Esquerda e da CDU
O Bloco de Esquerda e a Coligação Democrática Unida, partidos a esquerda do Partido Socialista, mas que desde 2015 compunham uma solução que permitiu a formação de um governo de esquerda em Portugal – a chamada geringonça – tiveram um resultado extremamente desfavoravel.
De 2019 para as eleições últimas Bloco de Esquerda perdeu mais de 250 mil votos e 14 deputados. Nestas eleições o Bloco obteve 4,5% dos votos elegendo 05 deputados (as). A bancada parlamentar bloquista será agora composta por Catarina Martins, José Soeiro, Mariana Mortágua, Pedro Filipe Soares e Joana Mortágua.
Nas palavras de Catarina Martins, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda foi “uma derrota” e “um mau resultado”. Para Francisco Louça, dirigente histórico e ex-deputado do Bloco de Esquerda houve uma “perda de influência à esquerda, a consolidação ao centro e uma radicalização à direita”.
Em relação a derrota do Orçamento do Estado para 2022, que levou à antecipação das sondagens, Louçã diz que o PS “imputa responsabilidade aos partidos de esquerda e o eleitorado confirmou a posição do Partido Socialista”.
A Coligação Democrática Unitária (CDU), que integra o PCP, o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) e a associação Intervenção Democrática, perdeu 06 dos 12 deputados que tinha desde as anteriores legislativas, há dois anos. Nestas eleições a CDU obteve 4,39% dos votos, ou seja, 236.635, e ficou pela primeira vez abaixo dos 300.000 votos.
Ao analisar os resultados dos partidos a esquerda do PS o sociologo português Boaventura de Sousa Santos em recente artigo afirmou:
O BE passa de terceira força política para quinta e o PCP, de quarta para sexta. As posições destes partidos passaram a ser ocupadas por forças de ultra-direita, uma de inspiração fascista, (Chega), agora terceira força política, da família do Vox e da extrema-direita europeia e mundial, e uma de recorte hiper-neoliberal, darwinismo social puro e duro, ou seja, sobrevivência do mais forte (Iniciativa Liberal), agora quarta força política.
Os resultados eleitorais mostram que a esquerda à esquerda do PS perdeu a oportunidade histórica que granjeou depois de 2015 ao construir uma solução de governo de esquerda que ficou conhecida por geringonça (PS, BE, PCP), uma solução que travou a austeridade da imposta pela solução neoliberal da crise financeira de 2008 e lançou o país numa recuperação económica e social modesta mas consistente.
Em relação o Bloco de Esquerda Boaventura recorda que “…, em 2011, o mesmo desprezo pela realidade levou o BE a chumbar o Plano de Estabilidade e Crescimento do governo socialista (José Sócrates), abrindo as portas para a direita mais anti-social que o país já conheceu”.
Balanço das Eleições
Segundo Boaventura o resultado das eleições ao fazer de Portugal “o único país europeu com um governo de maioria absoluta de um partido de esquerda, o Partido Socialista” paradioxalmente “deixou o PS solto para ser menos de esquerda do que que gostaríamos que fosse” eis que, desnecessários acordos com o Bloco de Esquerda e a Coligação Democrática Unida.
Com outro viés, ao fazer o balanço das eleições Lucas Rohan afirma que “O gosto doce da vitória surpreendente do Partido Socialista (PS) nas eleições legislativas antecipadas de Portugal, quando o primeiro-ministro António Costa conquistou a maioria absoluta no Parlamento após seis anos de Geringonça, se misturou ao sabor amargo do forte crescimento da extrema direita representada pelo partido Chega, que saltou de um extremista solitário para 12 deputados. Agridoce foi a palavra mais repetida nos debates políticos para sintetizar o que as urnas disseram no último domingo (30)”.
O colapso da esquerda à esquerda em Portugal
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos escreve sobre a vitória do PS em Portugal e o colapso do PCP e BE, “a esquerda à esquerda”