Norma: faz um tempo eu quis fazer uma canção para você viver mais.

Por Lúcio Costa
Publico a carta que escrevi quando do falecimento de minha mãe, Norma Therezinha da Costa, em 2006.
Norma no parto me trouxe à vida, pelos livros e a música me deu a luz e com eles o mundo e os sonhos.
Passados os anos e a lida da vida com suas perdas e alegrias Norma segue comigo. O amor ainda está aqui.
Paz e Graça  Norma, minha Mãe.
Um carinho às mães todas.

Queridos amigos e amigas;

Na terça-feira às 4.20 h, aos 72 nos, no Hospital Nossa Senhora das Graças em Canoas, faleceu Norma Therezinha da Costa.

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Norma e Waldemar namorados, 1959.

 A Dona Norma, tinha muitos rostos: era a viúva do Noni, Mãe do Lúcio e do Gilmar, avó da Natalia, da Bruna e da Vanessa e vó emprestada de muitos outros e outras.

 

Era uma mulher que gostava de livros e de música.

Recordo dela voltando do centro de Porto Alegre trazendo aqueles livros da Editora Globo impressos em papel jornal. Através de suas mãos ganhei o gosto pelos livros, desde o Sarandi o mundo foi-se se abrindo para mim. Hoje percebo que minha Mãe, ao seu jeito deu-me o mundo de presente.

Lembro dela limpando a casa, cozinhando, lavando roupa sempre com o rádio ligado. A música a embalava e no embalo dela, escutando a Guaíba e a Cultura aprendi

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Norma, Waldemar e Lúcio, 1961.

a gostar de música erudita, de opera, de jazz. Depois, vieram outras rádios e novas sonoridades que ela me revelou: a MPB e o rock.

 

Era azul no futebol: uma gremista furiosa e secadora. Na política era vermelha. Vinha de uma família trabalhista, nos anos da ditadura sempre votou no MDB. Filiou-se ao PT em 1985 e sempre acompanhou as Convenções do Partido. Lembro dela e da Vó Nadir – sua mãe – sentadas juntas escutando os discursos e acompanhando atentas as votações.

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Norma, verão de 1978.

Lembro da Norma como uma mulher solidária: ajudava ao marido, aos filhos aos seus irmãos e irmãs, as suas afilhadas e as amigas da vizinhança.

De seu carinho e solidariedade recordo particularmente de uma feita. Corria o ano de 1975, organizei um abaixo-assinado por eleições diretas para o Centro Cívico da Escola Polivalente. Fui suspenso e ela convocada à Escola. Lá o Diretor, que tinha fama de ter sido milico, a interrogou sobre se eu não frequentava reuniões comunistas, se não tinha amigos suspeitos. A Dona Norma, que estava cansada de saber que o filho estava com a resistência à ditadura, jurou de pé junto que não passava nada, que eu não era nem tinha nenhum amigo “comunista”.

Companheira, alegre, solidária, assim recordo da Norma, minha Mãe. Essa é a lembrança que me acompanhará, que nos momentos em que a saudade apertar nos dará forças, nos trará alegrias para que continuemos nossa caminhada.

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Norma a entregar a carteira da OAB para Lúcio Costa

Gostaria de agradecer aos parentes, amigos e amigas, que de uma forma ou outra estiveram comigo, o Gilmar e as gurias: o carinho e solidariedade de vocês nos dão força e coragem.

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Norma, 2006.

 

Um forte abraço.

Lúcio Costa