Charlie Chaplin morreu no natal de 1977, há 40 anos. Um dos maiores gênios da história do cinema, atravessou as grandes mudanças tecnológicas do Século XX, indo do cinema mudo ao falado, sem perder o brilho e o talento.
O ator passou por orfanatos públicos depois da morte do pai e a internação da mãe em um hospital psiquiátrico na adolescência. A própria escolha pela profissão de ator teve a ver com problemas na infância. Criança, Chaplin ficou acamado por algumas semanas, a mãe representava cenas para entretê-lo e isso o marcou profundamente.
A dificuldade e o drama da infância e da formação do ator estão diretamente relacionados com a obra produzida por ele. Em O garoto (1921), um de seus clássicos, Chaplin conta a história de um menino abandonado pela mãe e que passa a ser criado por Carlitos, maior dos personagens do artista.
Carlitos e o próprio Chaplin se confundem. O nome do ator remete diretamente ao vestuário adotado por ele como o vagabundo. A criação do ícone, no entanto, aconteceu por acaso, de improviso. Chaplin usou os elementos que tinha à mão, no set, e gerou o personagem imortal.
Na pele de Carlitos, usou o humor para entender o seu tempo e criticar o que considerava absurdo e cruel. As condições desumanas de trabalho e os males da tirania foram algumas das questões que ele levou para o cinema e que foram fruto de um contexto ligado à Revolução Industrial e às guerras mundiais.
Perseguições
“A cobiça envenenou a alma do homem, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios”, diz em O grande ditador, um dos momentos em que Chaplin cedeu ao cinema falado.
“Lutemos, agora, para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós”, continua.
Claro que tocar em temas espinhosos e criticar, muitas vezes, os donos do poder teve um preço alto. Chaplin enfrentou diversas críticas pelas posições humanistas que tinha, foi chamado de comunista e investigado pelo governo americano. Hollywood o deixou de lado por muitos anos, mesmo que ainda tenha buscado reconhecê-lo mais tarde, com premiações como o Oscar.
Não por acaso, questões como essas continuam presentes na sociedade contemporânea. E Chaplin, por isso mesmo, segue sempre atual.
Clássicos de Chaplin
O ator e cineasta fez diversos filmes que se tornaram fundamentais para o cinema. Confira algumas das principais obras do artista.
O garoto (1921)
Com clara inspiração na própria vida, Chaplin une com maestria o riso e o choro em O garoto, que conta a história de um menino abandonado adotado por um vagabundo.
Luzes da cidade (1931)
Uma florista cega se apaixona por um vagabundo. Como não pode vê-lo, ela acredita que se trata de um milionário. Um dos filmes mais tocantes de Chaplin.
Tempos modernos (1936)
Neste longa, Chaplin usa o humor para fazer uma crítica ferrenha aos problemas da Revolução Industrial e da exploração do trabalho.
O grande ditador (1940)
Primeiro filme inteiramente falado de Chaplin, O grande ditador é uma crítica satírica a ditadores, claramente direcionada a Hitler. Isso no auge da Segunda Guerra Mundial.
Luzes da Ribalta (1952)
Mais próximo do fim da carreira de Chaplin, este longa, com um quê de autobiografia, conta a história de um palhaço esquecido pelo público com o tempo.
O Grande Ditador
Em 1940, em plena ascensão do nazismo na Europa, Chaplin escreveu, dirigiu e interpretou a obra-prima “O Grande Ditador”. Relembre aqui “O Último Discurso”, a antológica sequência final do filme.
Em 1940, em plena ascensão nazista na Europa, escreveu,
dirigiu e interpretou a obra-prima “O Grande Ditador”, seu primeiro filme falado, onde satiriza Hitler e Mussolini.
No final do filme, em uma troca hilariante e inusitada de personagens, um barbeiro judeu assume o lugar do ditador e faz, se dirigindo à Hannah, sua amada, “O Último Discurso”, um dos grandes legados humanistas da história do cinema:
Hannah, está me ouvindo? Onde quer que esteja, olhe para cima! Olhe para cima, Hannah! As nuvens estão subindo, o Sol está abrindo caminho! Estamos fora das trevas, indo em direção à luz! Estamos indo para um novo mundo; um mundo mais feliz, onde os homens vencerão a ganância, o ódio e a brutalidade. Olhe, Hannah!.”