A legalização do uso medicinal da maconha levou a uma forte redução dos crimes violentos em estados norte-americanos que fazem fronteira com o México, segundo novas pesquisas.
De acordo com o estudo “A maconha legal está prejudicando as organizações de tráfico de drogas? O efeito da legalização da maconha sobre o crime nos EUA”, quando um estado na fronteira mexicana legalizou o uso medicinal da droga, os crimes violentos caíram 13% em média. A maior parte da maconha consumida nos Estados Unidos tem origem no México, onde sete grandes cartéis controlam o comércio da droga ilícita.
“Essas leis permitem que agricultores locais plantem maconha, que depois pode ser vendida a dispensários, onde ela é comercializada legalmente”, disse a economista Evelina Gavrilova, um dos autores do estudo. “Esses plantadores estão em concorrência direta com os cartéis mexicanos da droga que contrabandeiam a maconha para os EUA. Em consequência, os cartéis fazem muito menos negócios.”
nada às drogas. “Os cartéis estão concorrendo entre si”, explicou Gavrilova. “Eles competem por território, mas também é fácil roubar dos outros cartéis para vender, por isso eles lutam pelo produto. Eles também têm de defender seus territórios e garantir que não haja curiosos, nenhuma testemunha das atividades do cartel.”
“Sempre que há uma lei de maconha medicinal, observamos que o crime na fronteira diminui porque, de repente, há muito menos contrabando e menos violência ligada a isso.”
Enquanto os cartéis mexicanos traficam pela fronteira outras drogas, como cocaína, heroína e metanfetamina, o mercado da maconha é o maior de drogas nos Estados Unidos e de onde os cartéis obtêm maior lucro. Custa cerca de 150 dólares a produção de um quilo de maconha no México, que depois pode ser vendido por 12 mil dólares, a depender da qualidade.
Gavrilova, juntamente com os colegas pesquisadores Takuma Kamada e Floris Zoutman, estudou dados dos relatórios de crimes do FBI e registros suplementares de homicídios de 1994 a 2012. Eles descobriram que nos estados da fronteira o efeito da mudança de lei foi maior na Califórnia, onde houve uma redução de 15% nos crimes violentos, e mais fraca no Arizona, onde a queda foi de 7%.
- Competição. A legalização retira receitas dos cartéis e deixa as fronteiras mais seguras (Yesica Uvina/Courtesy of U.S. Customs and Border Protection)
Os crimes mais fortemente afetados foram roubo, que caiu 19%, e assassinato, com queda de 10%. Os homicídios especificamente relacionados à droga caíram surpreendentes 41%.
Os autores afirmam que seu estudo oferece novas visões de métodos para reduzir o crime violento relacionado ao tráfico de drogas. Mas sua publicação ocorre quando o secretário de Justiça, Jeff Sessions, está rescindindo a política da era Obama, que implementou as leis de maconha medicinal.
“Quando o efeito sobre o crime é tão significativo, é obviamente melhor regulamentar a maconha e permitir que os usuários paguem impostos sobre ela do que torná-la ilegal”, disse Gavrilova. “Para mim está claro que ela deve ser legalizada e regulamentada, e as receitas irão para o Tesouro.”
Saiba mais
A legalização da maconha e a economia
Mais de 20 estados americanos implementaram leis de maconha medicinal até agora. Naqueles que o fizeram, hoje há um dispensário de maconha para cada seis farmácias comuns.
- Nos estados da região, os crimes violentos caíram 13% em média, revela pesquisa (Foto: DPA/FotoArena)
O estudo sugere que a total legalização da maconha no Colorado e no estado de Washington terá um impacto ainda maior sobre o comércio de drogas quando forem construídas instalações para a produção de maconha em grande escala, ameaçando ainda mais a posição dos cartéis da droga.
Evidências esparsas sugerem que os cartéis hoje tentam entrar no negócio legal de maconha na Califórnia, abrindo suas próprias fazendas. Outros recorrem ao tráfico humano e sequestros para compensar a queda dos lucros. Também há relatos de que alguns cartéis mudam para novas formas de cultivo de droga, com plantações de papoula no México para produzir sua própria heroína, em vez de importá-la do Afeganistão.
Com Carta Capital