
Com mais de 200 poemas, a Antologia contém, além de textos dos três principais nomes da poesia clássica – Li Bai, Du Fu, Wang Wei –, também traduções de Bai Juyi, Meng Haoran, Li Shangyin, Du Mu, Liu Yuxi, Cen Shen, Wen Tingyun, Li He, Meng Jiao, Jia Dao, Han Yu, Cui Hao, e vários outros, totalizando mais de 30 autores, na maioria inéditos em português, inclusive representantes da vertente feminina da literatura chinesa – Li Ye, Xue Tao, Yu Xuanji.
O elevado padrão editorial da UNESP ressalta nesse livro, na diagramação inovadora do texto, bilingue, com introdução histórica e de teoria literária, notas explicativas e resenhas sobre os autores clássicos, também preparadas pelos tradutores.
Conforme Ricardo Portugal “é, até onde pudemos verificar, a primeira coletânea mais abrangente, publicada em nossa língua, da Dinastia Tang (618-907), a “idade de ouro” da literatura chinesa clássica”.
A seguir, transcrevemos alguns poemas da Antologia da Poesia Chinesa – Dinastia Tang.
DU FU
Contemplando a Grande Montanha
E eis o Grande Tai – como dizê-lo
além de Lu e Qi tudo é verdura
Aqui divino e belo se concentram
se lado sul ou norte claro-escuro
O peito estende às nuvens que acumulam
olhos distendem pássaros que entram
É preciso alcançar o extremo o cume
de um só olhar mil picos se apequenem.
Admirando as flores sozinho junto ao rio (I)
frente ao pagoda de Huang Shi e leste do rio
largou-se a preguiçosa primavera à brisa
fl ores de pêssego brotaram sem senhor
amor vermelho-escuro amar suave e rubro
LI BAI
Lamento da escadaria de jade
Degraus de jade nasce o branco orvalho
tardia noite a entrar nas meias seda
Baixa a cortina em contas de cristais
lua de outono vaza em transparências
Canto antigo (a oeste eleva-se o Monte do Lótus…)
a oeste eleva-se o Monte do Lótus
ao longe Estrela assoma inteira tocha
a flor sagrada a alva mão tomara
ao passo etéreo no Grande Vazio
o robe em faixas abre-se arco-íris
flutua vento ao caminhar celeste
ela convida às nuvens o terraço
para saudar o imortal Wei Shuqing
vagar vagar segui-la em seu percurso
do cisne ao dorso surge a obscura esfera
e ainda abaixo ao rio vê-se Luoyang
bárbaros tropas fileiras sem fim
a erva selvagem em sangue regurgita
lobos chacais a sanha no comando
Pensamentos em uma noite silenciosa
em frente à cama luz a lua brilho
ou será sobre o chão talvez geada
ergue-se a fronte a lua ali cintila
cabeça baixa a lembrança do lar
Canção do Lago Qiupu
cabelos brancos mais de mil novelos
tristezas igualmente longas dores
saber de onde veio ao claro espelho
o fino gelo este lugar de outono
WANG WEI
Na montanha
Riacho Jing as pedras surgem brancas
escassas folhas rubras num céu frio
Chuva não houve à trilha da montanha
molhando as roupas o verde vazio
Desde o alto terraço despedindo-se de Li Shiyi
Desde o alto terraço despedir-se
rio planície perdendo-se no escuro
Pássaros voam voltam no crepúsculo
vai viajante apressa-se a partida
BAI JUYI
Despedida entre as ervas na planície antiga
tenras ternas ervas na planície
todo ano fanam-se e então crescem
fogo novo queima e ainda teimam
vem a primavera e ao vento vingam
longe o odor invade a antiga rua
clara verde joia em velhos muros
seguem o amigo ao longo da alameda
medram tremem fremem em sentimento
LI SHANGYIN
Sem título (I)
Ver-se é difícil; separar, tão mais difícil,
vem vento leste fraco e cem flores definham.
Segue bicho-da-seda à morte e o fio cessa,
vira-se a vela em cinza e então lágrimas secam.
Manhã no espelho, mudam cabelos de nuvem;
pela noite, a poesia e o frio – raios de lua.
Ir até o Monte Peng nem é tanta distância:
– pássaro azul, à volta, vela sem descanso.
Ricardo Primo Portugal é escritor e diplomata, graduado em Letras pela UFRGS. Viveu e trabalhou na China por oito anos, nas cidades de Pequim, Xangai e Cantão.
Publicações:Antologia da Poesia Chinesa – Dinastia Tang (UNESP, 2013, traduções suas e de Tan Xiao), Indian Village e outros poemas – (coleção Essenciais, livro digital: Editora Simplíssimo-Cailun, 2013), Dois outonos – haicais (Edições Castelinho, coleção Estante Instante, 2012), Zero a sem – haicais (7Letras, 2011), Poesia completa de Yu Xuanji (UNESP, 2011, traduções suas e de Tan Xiao, finalista do 54º Prêmio Jabuti na categoria tradução), DePassagens (Ameop, 2004), A Cidade Iluminada (Paulinas, 1998), Arte do risco (SMCPA, 1992), Antena Tensa (Coolírica, 1988), além de participações em antologias. Co-organizador de Antologia poética de Mário Quintana (EDIPUCRS-Consulado-Geral do Brasil em Xangai, 2007), primeiro livro de poeta brasileiro traduzido para o chinês. Tem publicado poemas, além de artigos sobre tradução, literatura e temas culturais em períodicos e revistas da internet. Atualmente, vive em Quito, Equador.