Porto Alegre: Pela segunda noite consecutiva, Brigada Militar lança bombas contra manifestantes

Débora Fogliatto

A Cidade Baixa foi palco, pela segunda noite consecutiva, de violência policial contra manifestantes. Um ato convocado justamente em resposta à ação policial registrada na quinta-feira (12), acabou dispersado com bombas de gás lacrimogêneo e detenções. Foram cerca de três horas de protesto que seguiu pacificamente por diversas ruas de Porto Alegre, com poucos momentos de tensão, antes dos ataques da Brigada Militar começarem, quando o ato parecia estar acabando.

A manifestação desta sexta-feira (13) teve início por volta das 18h30, na Esquina Democrática, e reuniu milhares de pessoas que saíram em caminhada pela Borges de Medeiros, Salgado Filho, João Pessoa, Ipiranga, Erico Verissimo, João Alfredo, República, até chegar ao Largo Zumbi dos Palmares, na Loureiro da Silva.

A multidão repetia cantos contra o impeachment e o governo interino liderado por Michel Temer e marchava pacificamente, saudando pessoas que apareciam nas janelas com bandeiras do PT e aplaudindo. Em alguns momentos, moradores favoráveis ao impeachment também se manifestavam, com bandeiras do Brasil, e recebiam cantos de “golpistas, fascistas, não passarão”. Na Avenida João Pessoa, além de “Temer ladrão, teu lugar é na prisão”, “fora Temer” e “vem pra rua vem, contra o Temer”, as mulheres do ato começaram a entoar “nem recatada e nem do lar, a mulherada tá na rua pra lutar”.

Na Avenida Ipiranga, foi possível ver a cavalaria da Brigada Militar passando em disparada no lado oposto ao dos manifestantes. Em frente à sede do jornal Zero Hora, houve momentos de tensão enquanto os manifestantes decidiam se permaneciam mais tempo no local ou seguiam em caminhada. Cantando “a verdade é dura, a RBS apoiou a ditadura”, alguns manifestantes jogaram pedras contra o prédio, mas em poucos minutos decidiram seguir pela Erico Verissimo.

Na chegada à Cidade Baixa, o grupo entoava”ai, ai, ai, ai, empurra o Temer que ele cai” e parecia que o ato acabaria sem maiores problemas. Chegando pela Loureiro da Silva até o Largo Zumbi, a manifestação começava a se dispersar. No entanto, quando parte dos manifestantes já havia ido embora, um grupo que bloqueava a via foi atacado com bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Brigada Militar, a partir das 21h30.

Como já havia acontecido na noite anterior, os policiais perseguiram o grupo, arremessando mais bombas e trancando, eles mesmos, a Loureiro da Silva. Na rua Lima e Silva, em direção ao Centro, houve muita correria quando os policiais dispararam pelo menos quatro bombas na quadra entre a Loureiro e a Fernando Machado. Assim como aconteceu ontem, todos os comércios do entorno começaram a fechar suas portas. Os carros que passavam pelo local acabaram ficando entre a Brigada Militar e os manifestantes, fazendo com que os policiais não avançassem pela rua.

Mesmo com as bombas de gás e relatos de agressões com cassetetes e tasers, um grupo permaneceu próximo à Brigada Militar. Nesse momento, pelo menos quatro mulheres foram detidas e levadas à 3ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, no bairro Navegantes. Há fotos e vídeos de uma jovem mulher sendo arrastada por um policial e outra cercada sendo levada por cinco brigadianos. Duas das jovens foram levadas para o Hospital Pronto Socorro por estarem machucadas, mas retornarão à Polícia para prestar depoimento. A acusação das quatro, segundo a advogada que as acompanha, é desacato.

Segundo a BM, os manifestantes teriam revidado com cacos de vidro e pedras. Três policiais acabaram feridos, dois dos quais foram levados para o Hospital Pronto Socorro. Após as bombas de gás e detenções, parte dos manifestantes seguiu mobilizada e, até por volta das 23h, seguia bloqueando a esquina das ruas Lima e Silva com República, eventualmente entoando “fora Temer”.