O jogo ainda não está dado!

Por Céli Pinto

O texto da grande mídia sobre as eleições do último domingo é de que o PT é o grande perdedor devido os escândalos de corrupção, que o FORA TEMER não tem mais sentido, que agora o governo foi legitimado para fazer suas reformas, que a esquerda morreu, o mercado está feliz e um terço dos brasileiros não estão nem aí com o processo político porque não foi votar.

Gostaria de chamar a atenção para alguns aspectos que fogem a este quadro. Em primeiro lugar a chamada crise do PT, os desmandos do PT, a corrupção do PT, não é maior do que a crise do PMDB, dos desmandos do PMDB, da corrupção do PMDB, ou da crise do PSDB, dos desmandos do PSDB, da corrupção do PSDB. Para falar só dos três partidos mais importantes do país. Os eleitores que deram a vitória aos candidatos conservadores, votaram em partidos corruptos, em crise e cheios de desmandos. A principal causa da derrota do PT, tal como ela ocorreu nas eleições que passou, está estreitamente ligada a desconstrução diária do partido e de suas lideranças, patrocinada pela grande mídia e pela Operação Lava-Jato, que perdeu qualquer resquício de principio republicano nos três meses que antecederam às eleições. A medida em que as eleições se aproximavam Lula foi acusado de forma prosaica pelos procuradores de Curitiba, Mantega e Palocci foram presos. A questão central não era a corrupção ou políticos suspeitos espalhados em todos os partidos, a questão era atacar o PT. Antes, a deposição de Dilma Rousseff já havia sido a prova cabal que não se tratava de problemas com a corrupção, mas de tirar o PT a qualquer custo do Planalto. Onde anda Eduardo Cunha? Porque ele não é mais falado? E Renan Calheiros, virou a vestal da República? Por que foram esquecidos?

O PT perdeu parte significativa de seu eleitorado nestas eleições, perdeu militantes, certamente também por seus próprios erros: por ter acreditado na palavra mágica “governabilidade”; por ter se burocratizado; por ter se afastado dos movimentos sociais; por ser autofágico nas suas lutas internas; por ter ficado 4 mandatos na presidência da república e ter se envolvido em mal feitos injustificáveis.

Mas entre os erros do PT não está fazer o ajuste fiscal preferido de Christine Lagarde, cortar direitos trabalhistas, congelar recursos para saúde e educação. Estes são erros que aprofundam desigualdades e ameaçam as importantes conquistas sociais dos últimos 14 anos. Foram as acertos , não os erros do PT, que determinaram o golpe parlamentar- mediático e sua contínua desconstrução.

Muito provavelmente grande parte de quem ficou em casa, anulou o voto, votou em branco era de eleitor do PT e isto é, ao mesmo tempo, um grande problema para o partido, mas uma grande esperança para o campo progressista, de centro esquerda e de esquerda no Brasil. Ficando em casa, anulando o voto ou votando em branco o eleitor, protestou e gritou que existe.

Quem deu a vitória a figuras patéticas como Dória em São Paulo, ou que provocou com seu voto a ausência, em muitas capitais, de candidatos de esquerda ou centro esquerda no segundo turno, foram aqueles que saíram às ruas destratando a presidenta da república, aqueles que não se importam com corrupção, ou de votarem em partidos envolvidos com helicópteros com toneladas de cocaína.

Quem votou em Melo, por exemplo em Porto Alegre, não se preocupa com o fato de ele ser do mesmo partido de Eduardo Cunha, de Temer, de Renan Calheiros, porque para eles a corrupção não importa. Em umas das últimas manifestações contra Dilma Rousseff havia um cartaz que afirmava “Eduardo Cunha é corrupto mas é um dos nossos” Isto é uma síntese dos eleitores vencedores nas eleições de domingo passado. Quem votou nestes candidatos é antipetista não pelos erros do PT, mas pelos acertos, que começavam a ameaçar as privilegiadas classes altas e médias do Brasil.

Por isto a grande mídia se cala para não ter de admitir que os corruptos continuam muito bem obrigado, que o governo Temer está fazendo água por dentro e por fora, que o PSDB está nas mãos de Alckmin e não sob a domínio de FHC, Aécio ou Serra.

Temer tem índices de rejeição assustadores para um salvador da pátria com três meses de governo. O Fora Temer é mais do que nunca uma realidade. Não é verdade que tem tranquilidade para fazer reformas. Seu partido no governo se digladia por parcelas do bolo e ameaça não dar apoio as reformas prometidas à FIESPE e a banca internacional.

Os eleitores que não foram as urnas podem estar desiludidos, descrentes, mas certamente não são aqueles que entendem que política é palavrão e impropério, que encheram as ruas para depor a presidenta Dilma Rousseff, estes acharam seus candidatos.

Em síntese o jogo ainda não está dado para 2018, há muito a se recompor no próximo ano no campo progressista no Brasil.

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Céli Pinto é Professora Titular do Departamento de História da UFRGS.

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