Por Emir Sader
O Brasil não sairá o mesmo depois desta profunda e prolongada crise, que não poupou a nenhuma instituição política, mas sobretudo questionou a legitimidade do sistema político. Sairá melhor ou pior, mais democrático ou mais autoritário.
Sairá pior se o golpe se consolidar, porque o período democrático da nossa história teria um desfecho de ruptura, com um bando de políticos aventureiros assaltando o Estado sem votos, sem legitimidade, buscando desmontar todos os avanços conseguidos nos últimos anos. Terá sido consagrado o método do golpe, da falta de respeito à vontade democrática da maioria.
Mas o Brasil sairá melhor, se for imposta uma solução democrática à crise. Se, às mais grandes mobilizações populares, aos argumentos irrefutáveis contra o golpe e a favor da democracia, se unir uma solução política que combine o respeito à democracia com a legitimação da consulta popular.
A Dilma, nas suas entrevistas à TV Brasil e ao Brasil 247, generosamente, reafirmou seu direito a retomar na plenitude a presidência da República, para a qual foi eleita democraticamente, mas ao mesmo tempo, mostrando compreensão da dimensão da crise brasileira, reiterou que “o Brasil precisa de uma nova repactuação pelo voto”.
Não um voto que substitua o mandato legitimamente conquistado pela Dilma, mas um que reafirme os caminhos que deve seguir o Brasil a partir de uma crise tão profunda como esta. O que supõe a derrota do golpe na votação do Senado, a retomada da presidência plena por parte da Dilma para, a partir daí, consultar o povo sobre os passos seguintes.
O senador Roberto Requião se adianta até a propor os passos que deveriam ser dados nesse período, para sinalizar o caminho futuro do país. Menciona-se uma carta que Dilma faria, apontando os rumos da continuidade do seu governo, que sem duvida contará com Lula como articulador fundamental.
O principal é buscar e encontrar uma saída política democrática para a crise, mostrar que o golpe não compensa, que o país não aguenta os retrocessos que eles querem impor. Mostrar que além da imensa mobilização popular e dos argumentos, temos capacidade política para articular uma saída democrática para a crise.
Impedir o que os golpistas gostariam: voltar a se impor no Senado e seguir, de forma acelerada a partir daí, no desmonte do patrimônio público nacional, nos direitos dos trabalhadores, nos recursos para a educação e a saúde, na política externa soberana, em tudo o que de positivo foi conquistado nestes anos, chegando a 2018 com um país desfeito, reordenado conforme os ditames do mercado controlado pelos capitais especulativos.
Vislumbra-se uma via de derrota dos golpistas no Senado, de retomada da presidência pela Dilma e pela consulta, convocada por ela, da vontade popular. O Brasil sairá mais forte, a democracia renovada, o povo mais confiante e decidido a tomar de vez nas suas mãos o destino do país.
Saiba mais
Dilma defende consulta para que população decida se quer novas eleições
A presidenta afastada Dilma Rousseff defendeu hoje (9), em entrevista especial concedida à TV Brasil, uma consulta popular caso o Senado não decida pelo seu impedimento. Ao apresentador Luís Nassif, Dilma disse que é a população que tem que dizer se quer a continuidade de seu governo ou a realização de novas eleições.Dilma disse:
“O pacto que vinha desde a Constituição de 1988 foi rompido e não acredito que se recomponha esse pacto dentro de gabinete. Acredito que a população seja consultada”.
Requião anuncia 30 votos contra o impeachment
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) reuniu-se ontem (7) à noite num jantar com 30 senadores contrários ao impeachment de Dilma Rousseff. Requião revelou que o grupo convergiu para a realização de novas eleições diretas ainda este ano. “Num jantar com 30 senadores esta noite, estupefatos com últimos acontecimentos, convergimos para eleições diretas muito logo. Povo decide!”, tuitou.
Milhares contra o golpe. Lula discursa na Paulista.
Convocadas pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, milhares de pessoas protestam contra o governo interino de Michel Temer.