A invasão de uma escola do MST e a repressão aos estudantes são sintomas da emergência de um Estado policial no País
O Vaticano recebeu no início do mês 5 mil representantes de movimentos populares de mais de 60 países, o III Encontro Mundial do gênero. Idealizador das assembleias, o papa Francisco encerrou o encontro no sábado 5 com um discurso – abaixo vídeo com João Pedro Stédile sobre o encontro e a integra do discurso do Papa Chico – em espanhol para 200 pessoas. Suave na fala, duro na mensagem.
Vestido de branco, condenou a força do dinheiro, responsável por um sistema “terrorista” que descarta “a maravilha da Criação, o homem e a mulher”, uma espécie de “ditadura”, como diziam seus antecessores Pio XI e Paulo VI.
E exortou os fiéis: “Vocês talvez sejam os que mais motivos têm para queixar-se, ficar presos nos conflitos, cair na tentação do negativo. Mas, apesar disso, olham adiante, pensam, discutem, propõem e atuam. Eu os felicito, os acompanho e lhes peço que sigam abrindo caminhos e lutando”.
Enquanto as lutas populares são exaltadas pelo pontífice, o Brasil recua 90 anos e trata delas como gostava o último presidente da República Velha, Washington Luís (1926-1930), um crente de que a questão social era caso de polícia. Sobra repressão por esses dias.
Os sem-terra que pedem reforma agrária são caçados pela polícia e a Justiça. Os estudantes inconformados com medidas impopulares do governo são alvo de decisões judiciais medievais, spray de pimenta no Congresso e deboches do presidente Michel Temer.
Uma sequência preocupante de fatos em um país campeão de assassinatos e desigualdade, resumida pelo presidente da Associação Juízes para a Democracia (AJD), André Augusto Salvador Bezerra, como “de crescente Estado policial”.
Um capítulo desse enredo foi escrito na véspera do discurso papal. Na sexta-feira 4, a polícia civil do Paraná desencadeou uma perseguição aos sem-terra a desembocar na entrada, por policiais de São Paulo armados e fardados, em uma escola do MST em Guararema, cidade de 28 mil habitantes a 77 quilômetros da capital paulista. Vídeos gravados por câmeras de segurança da escola mostram os agentes com metralhadores à mão enquanto pulam uma janela e, já dentro, disparam para o alto.
“Era realmente assustador, porque estavam fortemente armados e o procedimento não estava dentro das normas jurídicas”, relatou pelo Facebook a professora Silvia Beatriz Adoue, segundo quem os policiais não tinham mandado, só um documento no celular.
Um professor de 64 anos, Ronaldo Valença, portador do mal de Parkinson, terminou com a clavícula quebrada. Em um vídeo na internet, vê-se um policial fora da escola ameaçar pelo portão uma mulher que estava dentro: “Eu acho que vocês vão perder. Eu acho que vai sair alguém morto daqui. Pode ser nós, pode ser vocês”.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que os policiais ficaram “encurralados” por 200 pessoas na escola e atiraram para o céu como advertência. Quatro teriam sido agredidos.
- Enquanto isso, a polícia do estado de exceção em vigor no Brasil age violentamente em escola de Guararema (Foto: reprodução)
Batizada de Florestan Fernandes, importante pensador do século passado (professor de Fernando Henrique Cardoso, que esqueceu suas lições), a escola foi inaugurada em 2005 pelo MST, após três anos de obras, com dinheiro arrecadado com a venda de um kit a reunir um livro de fotos de Sebastião Salgado, texto do escritor português José Saramago e músicas de Chico Buarque.
O trio topou abrir mão dos direitos autorais em favor dos sem-terra. O local abriga três salas de aula com capacidade para 200 pessoas, uma biblioteca com 40 mil títulos e cursos que vão da alfabetização à graduação universitária.
A ação policial por ali despertou reações de gente famosa aqui e no exterior. Para o ator Wagner Moura, o Capitão Nascimento do filme Tropa de Elite, “se alguém tinha dúvida de que o Brasil vive um estado de exceção, um estado policialesco, essa invasão é uma demonstração covarde de truculência típica de regime de exceção”.
O porta-voz da prefeitura de Barcelona, Gerardo Pisarello, escreveu no Twitter: “Condenamos a violência e exigimos respeito aos direitos humanos”. O fundador do partido espanhol Podemos, Juan Carlos Monedero, comentou que “esse comportamento da polícia de São Paulo é típico de ditadura e de governos autoritários”.
A encrenca em Guararema surgiu a 900 quilômetros dali, em Quedas do Iguaçu, cidade de 33 mil habitantes no oeste no Paraná. Trata-se de uma disputa fundiária antiga, de quase 20 anos, a opor o MST e a Araupel, exportadora de madeira.
Segundo o movimento, a empresa grilou terras e estas deveriam assentar camponeses. O Incra, órgão federal de reforma agrária, possui ações judiciais para anular títulos de propriedade da Araupel. Em 2014, 3 mil famílias de sem-terra ocuparam uma fazenda da empresa, a Rio das Cobras.
Em março deste ano, outras 700 ocuparam nas cercanias as fazendas Dona Hylda e Santa Rita, também da Araupel. O ambiente ficou tenso. Em abril, dois trabalhadores rurais foram mortos, ao que consta devido a uma ação conjunta de policiais e capangas da empresa.
Quando das ocupações de março, a Polícia Civil do Paraná começou a investigar os sem-terra, por causa de denúncias de crimes nos acampamentos do MST. O avanço da apuração resultou na recente operação policial, nomeada “Castra” e destinada a prender 14 camponeses acusados de roubo, invasão de propriedade, cárcere privado e porte ilegal de armas, entre outras.
Acusados ainda de organização criminosa, uma novidade no País desde a vigência da Lei Antiterrorismo, a partir de março, usada contra movimentos sociais, como em um caso emblemático em Goiás. Dentre as 14 pessoas na mira da Castra, duas estariam em Guararema, razão para a polícia do Paraná ter pedido auxílio à paulista. A dupla não estava no local, no entanto.
A caça ao MST desencadeada desde o Paraná une polícia, governo do estado e empresa. Uma foto divulgada na internet mostra um quarteto sorridente: o delegado civil Adriano Chohfi, um dos dois condutores da Operação Castra, Tarso Giacomet, diretor da Araupel, o chefe da Casa Civil do governo paranaense, Valdir Rossoni, deputado federal pelo PSDB, e um deputado estadual tucano, Adriano Litro.
“A ação sobre o MST insere-se em uma tendência de crescimento contínuo do Estado policial no Brasil, bem simbolizada pelo alcance da posição de quarta maior população carcerária do mundo”, afirma André Bezerra, dos Juízes pela Democracia. “Esse crescimento nos últimos meses tem alcançado os movimentos sociais, havendo, aos olhos de todos, o que já ocorria com frequência nas periferias: ações policiais repressivas contra aqueles que lutam por seus direitos.”
Os estudantes também têm sofrido com a repressão, escancarada em um despacho judicial sobre a desocupação do Centro de Ensino Ave Branca, uma escola em Taguatinga, na periferia de Brasília. Em 30 de outubro, o juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude, liberou a Polícia Militar para tirar os secundaristas com os seguintes métodos: corte de luz e água, proibição da entrada de pais e comida no local e uso de som alto para impedir os alunos de dormir.
Os estudantes ocupam escolas por dois motivos. Uma reforma do ensino médio baixada por Michel Temer com uma canetada, e por mais verba pública, algo que sobra ao juiz Costa de Oliveira, holerite de 39 mil reais em outubro.
O movimento que começou com os secundaristas acaba de chegar às universidades. Mais de 180 campi foram ocupados em 22 estados nos últimos dias, nas contas da União Nacional dos Estudantes. Segundo a UNE, é o maior movimento do tipo da história do País. A maioria são estabelecimentos federais, como UFRJ, UFBA, UFPA, mas há alguns casos de instituições privadas, como a PUC em Porto Alegre.
Nessas ocupações forma-se uma espécie de comunidade e de autogestão nas faculdades. Os estudantes decidem quando, onde e se vai ter aula, e quais serão as matérias ensinadas. Há casos em que os professores apoiam e participam. A entrada de funcionários da área administrativa é controlada, o que interfere na folha de pagamento.
Há saraus, dança e reuniões destinadas a organizar atos contra a PEC que congela por 20 anos as verbas sociais, foco central da rebelião universitária, garrote a impedir a ampliação dos investimentos na educação pública superior.
Nem todos os alunos concordam, há situações mistas dentro das universidades, com algumas faculdades ocupadas, outras não. “Há um embate forte na UnB”, diz Alyssa Volpini, de 24 anos, aluna de Arquitetura da Universidade de Brasília, onde é possível ver, nas imediações do Instituto Central de Ciências, cartazes a proclamar: “Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor”.
O apoio parte em geral do pessoal de humanas e a oposição, do pessoal de exatas. Para Alyssa, quanto mais a ocupação da UnB resistir, melhor. “Tem um símbolo muito importante um movimento desses na capital do País.”
Agraciado com 60 mil reais mensais pagos pelos brasileiros entre salário e aposentadoria, Temer tem optado por deboche e descaso ao lidar com os estudantes. Zombou deles na terça-feira 8 perante empresários em Brasília e repetiu a dose no dia seguinte à Rádio Itatiaia, de Minas.
À turma do PIB, disse que a molecada sequer sabe o que é uma PEC. A propósito, naquele momento, o Tribunal Superior Eleitoral recebia cópia de documentos que mostram que a empreiteira Andrade Gutierrez doou 1 milhão de reais à campanha de Dilma Rousseff por intermédio do PMDB de Temer, o que aumenta as chances de o presidente cair juntamente com a petista, caso a chapa da dupla na eleição de 2014 seja cassada. Na entrevista aos mineiros, Temer afirmou que “nós não damos importância a elas (ocupações)”, pois “a pior coisa é quando acontece isso e você dá muita importância”.
“Ele está debochando da gente o tempo todo”, diz Ana, secundarista de 18 anos, cabelo esverdeado, desejosa de cursar Veterinária e que prefere ocultar o sobrenome. É aluna de uma escola de Brasília, a Gisno, que foi tomada por estudantes e liberada pela PM no início do mês, uma desocupação “tensa”, relembra Ana, com corte de luz e cassetete a bater em grades.
Na quarta-feira 9, ela engrossou um protesto com algumas dezenas na porta do Senado contra o congelamento das verbas sociais e a reforma do ensino médio. Ato a resultar, como CartaCapital testemunhou, em disparos de spray de pimenta pela Polícia do Senado contra os manifestantes, muitos a chiar porque a mídia esconde sua causa. “Sabe o que é uma PEC, Ana?” “Ah, PEC é congelar os gastos com educação por 20 anos, é o que a gente sabe. A escola pública já está uma m…, já não tem dinheiro…”
Dentro do Senado, onde a proposta seria aprovada em uma comissão, a presidente da UNE, Carina Vitral, dizia que “os estudantes querem ser ouvidos, mas os políticos não querem ouvir”, daí avisa que os parlamentares “podem se acostumar, porque os estudantes estarão no Congresso Nacional para discutir os rumos do País”.
Enquanto os estudantes sofriam no Parlamento, no Palácio do Planalto Temer lançava um programa de reforma de imóveis populares, cuja verba será capaz de atender 0,013% da demanda. Presença de empresários, congressistas, assessores. Já o pobre beneficiário… O presidente disse ter “responsabilidade social” e exortou aliados presentes, como Aécio Neves, a saírem dali para ir ao Senado congelar as verbas sociais.
Na véspera, um economista prestador de serviços ao PSDB, Samuel Pessôa, da FGV, sustentava em um debate no Senado que a proposta “agudiza” o conflito social por recursos orçamentários e isso, concluiu, é ótimo. Só faltou dizer que os rentistas assistirão ao conflito de camarote, pois o pagamento da dívida pública estará devidamente protegido por duas décadas.
Esse clima de tensão e repressão é um perigo num país como o Brasil. Para 70% da população, a polícia abusa da violência, informa o 10o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no início do mês.
Em cinco anos, houve mais assassinatos no Brasil (279 mil) do que mortos na guerra da Síria (256 mil). Só em 2015, foram 58,5 mil homicídios, recorde mundial. No anuário, um cabo da PM de Santa Catarina, Elisandro Lotin, presidente da Associação Nacional dos Praças, analisa o cenário sem rodeios.
“As forças de segurança pública sempre foram usadas para o controle social no sentido da manutenção do status quo”, diz. “Em outras palavras, na medida em que o Estado abre mão de políticas educacionais, ou se omite na questão dos direitos sociais e utiliza as forças de segurança como forma de contenção social dos ‘excluídos’, ele incentiva confrontos.”
João Pedro Stédile comenta encontro dos movimentos populares com Papa Francisco
Eis a íntegra do histórico discurso do Papa Francisco aos Movimentos Populares
Irmãs e irmãos, boa tarde.
Neste nosso 3º Encontro expressamos a mesma sede, a sede de justiça, o mesmo grito: terra, teto e trabalho para todos.
Agradeço a todos os delegados que vieram das periferias urbanas, rurais e industriais dos cinco continentes, de mais de 60 países, para discutir, mais uma vez, sobre como defender estes direitos que nos convocam. Obrigado aos bispos que vieram para acompanhá-los. Obrigado aos milhares de italianos e europeus que se uniram hoje ao encerramento deste encontro.
Obrigado aos observadores e aos jovens comprometidos com a vida pública que vieram com humildade escutar e aprender. Quanta esperança tenho nos jovens! Agradeço também a você, senhor cardeal Turkson, pelo trabalho que fez no dicastério; e gostaria também de recordar a contribuição do ex-presidente José Mujica, que está presente.
No último encontro, na Bolívia, com maioria de latino-americanos, falamos da necessidade de uma mudança para que a vida seja digna, uma mudança de estruturas; além disto, de como vocês, os movimentos populares, são semeadores desta mudança, promotores de um processo em que convergem milhares de pequenas e grandes ações criativamente concatenadas, como em uma poesia; por isso quis chamá-los “poetas sociais”; e elencamos também algumas tarefas imprescindíveis para caminhar em direção a uma alternativa humana diante da globalização da indiferença: 1. colocar a economia a serviço dos povos; 2. construir a paz e a justiça; 3. defender a Mãe Terra.
Naquele dia, na voz de uma carrinheira e de um agricultor, fez-se a leitura das conclusões dos dez pontos de Santa Cruz de la Sierra, onde a palavra mudança era repleta de grande conteúdo, era ligada às coisas fundamentais que vocês reivindicam: trabalho digno para aqueles que são excluídos do mercado de trabalho; terra para os camponeses e povos originários; moradia para as famílias sem teto; integração urbana para os bairros populares; eliminação da discriminação, da violência contra as mulheres e as novas formas de escravidão; o fim de todas as guerras, do crime organizado e da repressão; liberdade de expressão e de comunicação democrática; ciência e tecnologia a serviço dos povos. Ouvimos também como vocês se comprometeram a abraçar um projeto de vida que rejeite o consumismo e recupere a solidariedade, o amor entre nós e o respeito pela natureza como valores essenciais.
É a felicidade de “viver bem” que vocês reclamam, a “vida boa”, e não esse ideal egoísta que enganosamente inverte as palavras e propõe a “boa vida”.
Nós, os que hoje estamos aqui, de origens, crenças e ideias diferentes, talvez não estejamos de acordo em tudo. Seguramente temos pensamentos diferentes sobre muitas coisas, mas concordamos nesses pontos.
Soube também de encontros e oficinas realizados em diversos países, onde se multiplicaram os debates à luz da realidade de cada comunidade. Isso é muito importante porque as soluções reais para as problemáticas atuais não sairão de uma, três ou mil conferências: devem ser fruto de um discernimento coletivo que amadureça nos territórios junto com os irmãos, um discernimento que se torne ação transformadora “segundo os lugares, os tempos e as pessoas”, como dizia Santo Inácio. Caso contrário, corremos o risco das abstrações, de “certos nominalismos declarativos (slogans) que são frases bonitas, mas não conseguem apoiar a vida das nossas comunidades” (Carta ao Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, 19 de março de 2016).
O colonialismo ideológico globalizante procura impor receitas supraculturais que não respeitam a identidade dos povos. Vocês seguem por outro caminho que é, ao mesmo tempo, local e universal. Um caminho que me recorda como Jesus pediu para organizar a multidão em grupos de cinquenta para distribuir o pão (Cf. Homilia na Solenidade de Corpus Christi, Buenos Aires, 12 de junho de 2004).
Há pouco pudemos assistir ao vídeo que vocês apresentaram como conclusão deste terceiro encontro. Vimos os rostos de vocês nos debates sobre como enfrentar “a desigualdade que gera violência”. Tantas propostas, tanta criatividade, tanta esperança na voz de vocês que, talvez, sejam os que mais motivos teriam para lamentar-se, permanecer paralisados nos conflitos, cair na tentação do negativo. Mesmo assim vocês olham em frente, pensam, discutem, propõem e agem. Parabenizo-os, acompanho-os, peço-lhes que continuem a abrir caminhos e a lutar. Isto me dá força, nos dá força. Acredito que este nosso diálogo, que se soma aos esforços de tantos milhões de pessoas que trabalham diariamente pela justiça em todo o mundo, está lançando raízes.
O terror e os muros
No entanto, esta germinação, que é lenta, que tem os seus tempos como toda gestação, é ameaçada pela velocidade de um mecanismo destrutivo que age em sentido contrário. Existem forças poderosas que podem neutralizar este processo de amadurecimento de uma mudança que seja capaz de deslocar o primado do dinheiro e colocar novamente no centro o ser humano. Esse “fio invisível” de que falamos na Bolívia, essa estrutura injusta que liga todas as exclusões que vocês sofrem, pode consolidar-se e transformar-se em um chicote, um chicote existencial que, no Antigo Testamento, escraviza, rouba a liberdade, fere sem misericórdia alguns e ameaça constantemente os outros, para abater a todos como gado até onde quer o dinheiro divinizado.
Quem governa então? O dinheiro. Como governa? Com o chicote do medo, da desigualdade, da violência econômica, social, cultural e militar que gera sempre mais violência em uma espiral descendente que parece não acabar nunca. Quanta dor, quanto medo! Há – eu disse recentemente -, há um terrorismo de base que emana do controle global do dinheiro sobre a terra e ameaça toda a humanidade. Deste terrorismo de base se alimentam os terrorismos derivados, como o narcoterrorismo, o terrorismo de Estado e aquele que alguns erroneamente chamam de terrorismo étnico ou religiosos.
Nenhum povo, nenhuma religião é terrorista. É verdade, existem pequenos grupos fundamentalistas em todos os lugares. Mas o terrorismo inicia quando “é expulsa a maravilha da criação, o homem e a mulher, e colocado ali o dinheiro” (Entrevista coletiva no voo de retorno da Viagem Apostólica à Polônia, 31 de julho de 2016). Esse sistema é terrorista.
Há quase cem anos, Pio XI previa o crescimento de uma ditadura econômica global que ele chamou de “imperialismo internacional do dinheiro” (Carta Encíclica Quadrasegimo Anno, 15 de maio de 1931, 109). A sala em que agora nos encontramos chama-se “Paulo VI”, e foi Paulo VI que denunciou há quase cinquenta anos a “nova forma abusiva de dominação econômica no campo social, cultural e político” (Carta Encíclica Octogesima Adveniens, 14 de maio 1971, 44). São palavras duras, mas justas de meus predecessores que perscrutaram o futuro. A Igreja e os profetas disseram, há milênios, aquilo que tanto escandaliza que o Papa repita neste tempo, em que tudo isto atinge expressões inéditas. Toda aDoutrina Social da Igreja e o magistério de meus predecessores se rebelam contra o ídolo do dinheiro que reina ao invés de servir, tiraniza e aterroriza a humanidade.
Nenhuma tirania se sustenta sem explorar os nossos medos. Por isso, toda a tirania é terrorista. E quando este terror, que foi semeado nas periferias com massacres, saques, opressão e injustiça, explode nos centros com diversas formas de violência, inclusive com atentados odiosos e covardes, os cidadãos que ainda conservam alguns direitos são tentados pela falsa segurança dos muros físicos ou sociais. Muros que fecham alguns e exilam outros. Cidadãos murados, aterrorizados, de um lado; excluídos, exilados, ainda mais aterrorizados, de outro. É essa a vida que Deus nosso Pai quer para os seus filhos?
O medo é alimentado, manipulado… Porque o medo, além de ser um bom negócio para os mercadores de armas e de morte, nos enfraquece, nos desestabiliza, destrói as nossas defesas psicológicas e espirituais, nos anestesia diante do sofrimento alheio e, no final, nos torna cruéis. Quando ouvimos que se festeja a morte de um jovem que talvez tenha errado o caminho, quando vemos que se prefere a guerra à paz, quando vemos que se difunde a xenofobia, quando constatamos que ganham terreno as propostas intolerantes; por trás desta crueldade que parece massificar-se existe o frio sopro do medo.
Peço-lhes para que rezemos por todos aqueles que têm medo, rezemos para que Deus dê a eles coragem e que neste ano da misericórdia possa amolecer os nossos corações. A misericórdia não é fácil, não é fácil… exige coragem. Por isso, Jesus nos diz: “Não tenham medo” (Mt 14, 27), porque a misericórdia é o melhor antídoto contra o medo. É muito melhor do que os antidepressivos e dos ansiolíticos. Muito mais eficaz do que os muros, as grades, os alarmes e as armas. E é grátis: é um dom de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, todos os muros caem. Todos. Não nos deixemos enganar. Como vocês disseram: “Continuamos a trabalhar para construir pontes entre os povos, pontes que nos permitem derrubar os muros da exclusão e da exploração (Documento conclusivo do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, 11 de julho de 2015, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia). Enfrentemos o Terror com o Amor.
O amor e as pontes
Um dia como este, um sábado, Jesus fez duas coisas que, nos diz o Evangelho, precipitaram o complô para matá-lo. Passava com os seus discípulos por um campo, um plantação. Os discípulos estavam com fome e comeram as espigas. Nada se diz sobre o “dono” daquele campo… encontrava-se subjacente a destinação universal dos bens. O certo é que diante da fome Jesus deu prioridade à dignidade dos filhos de Deus antes que a uma interpretação formalística, obsequiosa e interessada da norma. Quando os doutores da lei se queixaram com indignação hipócrita, Jesus recordou a eles que Deus quer o amor e não sacrifícios, e explicou que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado (Cf. Mt 2, 27).
Jesus enfrentou o pensamento hipócrita e presunçoso com a inteligência humilde do coração (Cf.Homilia, I Congresso de Evangelização da Cultura, Buenos Aires, 3 de novembro de 2006), que prioriza sempre o ser humano e não aceita que determinadas lógicas impeçam a sua liberdade de viver, amar e servir o próximo.
E depois, neste mesmo dia, Jesus fez algo “pior”, algo que irritou ainda mais os hipócritas e os soberbos que o estavam observando porque procuram uma desculpa para capturá-lo. Ele curou a mão atrofiada de um homem. A mão, este sinal tão forte do trabalhar, do trabalho. Jesus restituiu àquele homem a capacidade de trabalhar e com isso restituiu-lhe a dignidade. Quantas mãos atrofiadas, quantas pessoas privadas da dignidade do trabalho, porque os hipócritas, para defender sistemas injustos, se opõem a que sejam curados.
Penso, às vezes, que quando vocês, os pobres organizados, inventam o seu próprio trabalho, criando uma cooperativa, recuperando uma fábrica falida, reciclando os descartes da sociedade de consumo, enfrentando as inclemências do tempo para vender em uma praça, reivindicando um pedaço de terra para cultivar e alimentar quem tem fome, quando vocês estão imitando Jesus, porque buscam curar, mesmo que somente um pouquinho, mesmo se precariamente, essa atrofia do sistema socioeconômico reinante que é o desemprego. Não me surpreende que também vocês, às vezes, sejam vigiados ou perseguidos, nem me surpreende que aos soberbos não interessa aquilo que vocês dizem.
Jesus, que naquele sábado arriscou a vida, porque depois de curar aquela mão, fariseus e herodianos (Cf. Mc 3,6), dois partidos opostos entre si, que temiam o povo e também o império, fizeram os seus cálculos e confabularam para matá-lo. Sei que muitos de vocês arriscam a vida. Sei que alguns não estão aqui hoje porque arriscaram a vida… Mas não existe amor maior do que dar a vida. Isto nos ensina Jesus.
Os “3-T”, esse grito de vocês que faço meu, tem algo daquela inteligência humilde, mas ao mesmo tempo forte e curador. Um projeto-ponte dos povos diante do projeto-muro do dinheiro. Um projeto que visa o desenvolvimento humano integral. Alguns sabem que o nosso amigo cardeal Turkson preside o dicastério que leva este nome: Desenvolvimento Humano Integral. O contrário do desenvolvimento, se poderia dizer, é a atrofia, a paralisia.
Devemos ajudar a curar o mundo da sua atrofia moral. Este sistema atrofiado é capaz de fornecer alguns implantes cosméticos que não são verdadeiro desenvolvimento: crescimento econômico, progressos tecnológicos, maior “eficiência” para produzir coisas que se compram, são usadas e jogadas fora, envolvendo-nos a todos em uma vertiginosa dinâmica do descarte… mas não permite o desenvolvimento do ser humano na sua integralidade, o desenvolvimento que não se reduz ao consumo, que não se reduz ao bem-estar de poucos, que inclui todos os povos e pessoas na plenitude da sua dignidade, usufruindo fraternalmente a maravilha da criação. Este é o desenvolvimento do qual temos necessidade: humano, integral, respeitoso com a Criação.
A bancarrota e o resgate
Queridos irmãos, quero compartilhar com vocês algumas reflexões sobre outros dois temas que, junto com as “3-T” e a ecologia integral, foram centrais em seus debates dos últimos dias e são centrais neste tempo histórico.
Sei que vocês dedicaram um dia ao drama dos migrantes, dos refugiados e dos deslocados. O que fazer diante desta tragédia? No dicastério cujo responsável é o cardeal Turkson existe um setor que se ocupa destas situações. Decidi que, ao menos por um certo tempo, este setor vai ficar submetido diretamente ao Pontífice, porque esta é uma situação infame, que posso somente descrever com uma palavra que me saiu espontaneamente em Lampedusa: vergonha.
Lá, assim como em Lesbos, pude ouvir de perto o sofrimento de tantas famílias expulsas de sua terra por motivos econômicos ou violências de todos os tipos, multidões exiladas – disse isto diante das autoridades de todo o mundo – por causa de um sistema socioeconômico injusto e de conflitos bélicos que não provocaram, que não foram criados por aqueles que hoje sofrem o doloroso desenraizamento da sua Pátria, mas antes muitos daqueles que se recusam a recebê-los.
Faço minhas as palavras do meu irmão o Arcebispo Jerônimo da Grécia: “Quem vê os olhos das crianças que encontramos nos campos de refugiados é capaz de reconhecer imediatamente, na sua totalidade, a “bancarrota” da humanidade” (Discurso no Campo de Refugiados de Moria, em Lesbos, 16 de abril de 2016). O que acontece no mundo de hoje que, quando ocorre a bancarrota de um banco, imediatamente aparecem somas escandalosas para salvá-lo, mas quando acontece esta bancarrota da humanidade não existe sequer uma milésima parte para salvar estes irmãos que sofrem tanto? E assim o Mediterrâneo transformou-se em um cemitério, e não somente o Mediterrâneo… tantos cemitérios próximos aos muros, muros manchados de sangue inocente.
O medo endurece o coração e transforma-se em crueldade cega que se recusa a ver o sangue, a dor, o rosto do outro. Quem disse isso foi o meu irmão o Patriarca Bartolomeu: “Quem tem medo de vocês não olhou nos olhos de vocês. Quem tem medo de vocês não viu os rostos de vocês. Quem tem medo de vocês não viu os filhos de vocês. Esquece que a dignidade e a liberdade transcendem o medo e a divisão. Esquece que a migração não é um problema do Oriente Médio e da África do norte, da Europa e da Grécia. É um problema do mundo” (Discurso no Campo de Refugiados de Moria, Lesbos, 16 de abril de 2016).
É, na realidade, um problema do mundo. Ninguém deveria ver-se obrigado a fugir da própria Pátria. Mas o mal é duplo quando, diante daquelas terríveis circunstâncias, o migrante se vê lançado nas garras dos traficantes de pessoas para atravessar as fronteiras. E é triplo se, ao chegar à terra em que se pensava encontrar um futuro melhor, são desprezados, explorados e até mesmo escravizados. Isto se pode ver em qualquer canto de centenas de cidades.
Peço-lhes para fazerem todo o possível e que nunca se esqueçam de que também Jesus, Maria e José experimentaram a condição dramática dos refugiados. Peço-lhes para exercerem aquela solidariedade tão especial que existe entre aqueles que sofreram. Vocês sabem recuperar fábricas falidas, reciclar aquilo que outros jogam fora, criar postos de trabalho, cultivar a terra, construir casas, integrar bairros segregados e reclamar sem descanso como essa viúva do Evangelho que pede justiça insistentemente (Cf. Lc 18, 1-8).
Talvez com o seu exemplo e a sua insistência, alguns Estados e Organizações internacionais abrirão os olhos e adotarão as medidas adequadas para acolher e integrar plenamente todos aqueles que, por um motivo ou outro, buscam refúgio longe de casa. E também para enfrentar as causas profundas pelas quais milhares de homens, mulheres e crianças são expulsos a cada dia de sua terra natal.
Dar o exemplo e reclamar é um modo de fazer política, e isso me leva ao segundo tema que vocês debateram no encontro: a relação entre povo e democracia. Uma relação que deveria ser natural e fluída, mas que corre o perigo de ofuscar-se até tornar-se irreconhecível. O abismo entre os povos e as nossas atuais formas de democracia se alarga sempre mais em consequência do enorme poder dos grupos econômicos e midiáticos que parecem dominá-las.
Os movimentos populares, eu sei disso, não são partidos políticos e deixem que eu lhes diga que, em grande parte, aqui está a riqueza de vocês, porque vocês expressam uma forma diversa, dinâmica e vital de participação social na vida pública. Mas não tenham medo de entrar nas grandes discussões, na Política com maiúscula, e cito novamente Paulo VI: “A política é uma maneira exigente – se bem que não seja a única – de viver o compromisso cristão a serviço dos outros” (Carta Apostólica Octosegima Adveniens, 14 de maio de 1971, 46).
Gostaria de sublinhar dois riscos que giram em torno da relação entre os movimentos populares e a política: o risco de deixar-se formatar e o risco de deixar-se corromper.
Primeiro, não se deixar formatar, porque alguns dizem: a cooperativa, o refeitório popular, a horta agroecológica, as microempresas, o projeto dos planos assistenciais… até aqui tudo bem. Enquanto vocês se mantiverem limitados às “políticas sociais”, enquanto vocês não colocarem em discussão a política econômica ou a Política com maiúscula, vocês são tolerados. A ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida em um projeto que reúna os povos, me parece, às vezes, uma espécie de caminhão caçamba maquiado para conter o descarte do sistema.
Quando vocês, a partir da sua relação com o território, da sua realidade cotidiana, do bairro, do local, da organização do trabalho comunitário, das relações de pessoa a pessoa, ousarem colocar em discussão as “macro-relações”, quando gritarem, quando pretenderem indicar ao poder um planejamento mais integral, então vocês não serão mais tolerados tanto, porque estarão saindo do formato, estarão se colocando no terreno das grandes decisões que alguns pretendem monopolizar em pequenas castas. Assim, a democracia se atrofia, torna-se um nominalismo, uma formalidade, perde representatividade, vai se desencarnando porque deixa fora o povo na sua luta cotidiana pela dignidade, na construção do seu destino.
Vocês, organizações dos excluídos e tantas organizações de outros setores da sociedade, são chamados a revitalizar, a refundar as democracias que estão passando por uma verdadeira crise. Não caiam na tentação da limitação que os reduz a atores secundários, ou pior ainda, a meros administradores da miséria existente. Neste tempo de paralisias, de desorientação e de propostas destrutivas, a participação como protagonistas dos povos que buscam o bem comum pode vencer, com a ajuda de Deus, os falsos profetas que exploram o medo e o desespero, que vendem fórmulas mágicas de ódio e crueldade ou de um bem-estar egoísta e uma segurança ilusória.
Sabemos que “enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 202). Por isso, disse e repito, “o futuro da humanidade não está somente nas mãos dos grandes líderes, das grandes potências e das elites. Está, sobretudo, nas mãos dos povos; na sua capacidade de organizar-se e também nas mãos que irrigam, com humildade e convicção, este processo de mudanças” (Discurso ao II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Santa Cruz de la Sierra, 9 de julho de 2015).
Também a Igreja pode e deve, sem pretender ter o monopólio da verdade, pronunciar-se e agir especialmente diante das “situações em que se tocam as chagas e os sofrimentos dramáticos, e nos quais estão envolvidos os valores, a ética, as ciências sociais e a fé” (Pronunciamento no Encontro de Juízes e Magistrados contra o Tráfico de Pessoas e o Crime Organizado, Vaticano, 3 de junho 2016).
O segundo risco, dizia-lhes, é deixar-se corromper. Como a política não é um assunto dos “políticos”, a corrupção não é um vício exclusivo da política. Existe corrupção na política, existe corrupção nas empresas, existe corrupção nos meios de comunicação, existe corrupção nas Igrejas e existe corrupção também nas organizações sociais e nos movimentos populares. É justo dizer que existe uma corrupção radicada em alguns âmbitos da vida econômica, em particular na atividade financeira, e que é menos notícia do que a corrupção diretamente e ligada ao âmbito político e social. É justo dizer que muitas vezes os casos de corrupção são utilizados com más intenções.
Mas também é justo esclarecer que aqueles que escolheram uma vida de serviço, têm uma obrigação adicional que se soma à honestidade com que qualquer pessoas deve agir na vida. A medida é muito alta: é necessário viver a vocação de servir com um forte sentido de austeridade e a humildade. Isso vale para os políticos, mas vale também para os dirigentes sociais e para nós pastores.
A qualquer pessoa que seja muito apegada às coisas materiais ou ao espelho, a quem ama o dinheiro, os banquetes exuberantes, as mansões suntuosas, as roupas refinadas, os carros de luxo, aconselharia a entender o que está acontecendo em seu coração e a rezar a Deus para que o liberte destes apegos. Mas, parafraseando o ex-presidente latino-americano que se encontra aqui, aquele que está afeiçoado a todas estas coisas, por favor, não entre na política, não entre em uma organização social ou em um movimento popular, porque causaria muito dano a si mesmo e ao próximo e mancharia a nobre causa que assumiu.
Diante da tentação da corrupção, não existe melhor remédio do que a austeridade; e praticar a austeridade é, também, pregar com o exemplo. Peço-lhes que não subestimem o valor do exemplo, porque tem mais força do que mil palavras, de mil panfletos, de mil “curtidas”, de mil retweets, de mil vídeos no Youtube. O exemplo de uma vida austera a serviço do próximo é o melhor modo para promover o bem comum e o projeto-ponte dos 3-T. Peço-lhes, dirigentes, para não se cansarem de praticar esta austeridade e peço a todos que exijam dos dirigentes essa austeridade, que – por outro lado – os fará muito felizes.
Queridas irmãs e irmãos, a corrupção, a soberba e o exibicionismo dos dirigentes aumenta o descrédito coletivo, a sensação de abandono e alimenta o mecanismo do medo que sustenta este sistema iníquo.
Gostaria, para concluir, pedir-lhes para continuar a combater o medo com uma vida de serviço, solidariedade e humildade em favor dos povos e especialmente daqueles que sofrem. Vocês vão errar muitas vezes, todos erramos, mas se perseveramos neste caminho, cedo ou tarde, veremos os frutos. E insisto, contra o terror, o melhor remédio é o amor. O amor tudo cura. Alguns sabem que depois doSínodo sobre a Família escrevi a Amoris Laetitia, um documento sobre o amor em cada família, mas também naquela outra família que é o bairro, a comunidade, o povo, a humanidade. Alguém de vocês me pediu para distribuir um fascículo que contém um fragmento do capítulo quatro deste documento. Penso que vão entregá-lo a vocês na saída. E, portanto, com a minha bênção. Lá se encontram alguns “conselhos úteis” para praticar o mais importante dos mandamentos de Jesus.
Na Amoris Laetitia cito um falecido líder afroamericano, Martin Luther King, que sabia sempre escolher o amor fraterno até mesmo em meio às piores perseguições e humilhações. Quero recordar esta passagem com vocês: “Quando te elevas ao nível do amor, da sua grande beleza e poder, a única coisa que procuras derrotar são os sistemas malignos. Às pessoas que caíram na armadilha desse sistema, tu as amas, mas procuras derrotar o sistema (…) Ódio por ódio só intensifica a existência do ódio e do mal no universo. Se eu te bato e tu me bates, e te devolvo a pancada e tu me devolves a pancada, e assim por diante, obviamente continua-se até o infinito; simplesmente nunca termina. Nalgum momento, alguém deve ter um pouco de bom senso, e esta é a pessoa forte. A pessoa forte é aquela que pode quebrar a cadeia do ódio, a cadeia do mal” (n. 118; Sermão na Igreja Batista da Avenida Dexter, Montgomery, Alabama, 17 de novembro de 1957).
Agradeço-lhes novamente pela sua presença. Agradeço-lhes pelo seu trabalho. Desejo pedir a Deus nosso Pai que os acompanhe e os abençoe, que os cumule de seu amor e os defenda no caminho, dando-lhes em abundância a força que nos mantém em pé e nos dá a coragem para romper a cadeia do ódio: a força é a esperança. Peço-lhes, por favor, para rezarem por mim, e aqueles que não podem rezar, já sabem, pensem bem de mim e me enviem uma boa onda. Obrigado.