MENSAGEM DE PÁSCOA DO CONSELHO DAS IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL

“Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores,

para privar os pobres dos seus direitos e da justiça os oprimidos do meu povo,

fazendo das viúvas sua presa e roubando dos órfãos!” (Isaías 10:1,2)

Estamos na Semana Santa. Tempo de refletir sobre as violências cotidianas, sobre as desigualdades e sofrimentos provocados pelos diferentes abusos de poder: econômico, político e religioso.

O caminho da cruz pelo qual Jesus passou foi marcado por escárnio, linchamento moral e humilhação. Este caminho revela a face violenta do ser humano.

A celebração da Páscoa não é só de alegrias. Celebrar a Páscoa é encarar uma essência violenta do ser humano.

Nesse sentido, cabe-nos um olhar sobre o nosso país. Talvez nunca tenhamos vivido um momento tão crítico como o que estamos vivendo agora. A iminência de alterações relevantes em nossa Constituição aponta para um futuro incerto.

imagem pascoa
Nessa Semana de Páscoa é impossível não ter presente em nossas conversas, celebrações, orações os impactos profundos que irão gerar as reformas da previdência e trabalhista.

A Previdência Social é parte integrante de um sistema de proteção social amplo. Ela é também um dos poucos mecanismos de distribuição de renda de nosso país. Este sistema está colocado em risco. A legislação trabalhista garante que trabalhadores e trabalhadoras tenham seus direitos assegurados. Assim como a Previdência Social, também a legislação trabalhista está em risco.

Sabemos que, ao contrário do que se argumenta, nem a Previdência Social e nem as leis trabalhistas são as causas da crise econômica pela qual passa nosso país. O problema maior de nosso país é que não temos um projeto econômico de desenvolvimento capaz de superar o rentismo.

Somos uma das nações mais desiguais do mundo. Tanto a reforma da Previdência, quanto a reforma trabalhista aprofundarão as desigualdades. Novamente, prevalece a lógica de enriquecimento dos super ricos e empobrecimento dos pobres.

O argumento de que existe um déficit na Previdência é falacioso. Isso é mostrado de forma inequívoca no documento “Previdência: reformar para excluir? “, elaborado pela ANFIP e pelo DIESE. Segundo este documento, nossas maiores despesas financeiras não são com a Previdência, mas com o pagamento de juros e amortizações. No ano de 2015, o Brasil pagou 502 bilhões de juros. Enquanto os gastos com benefícios previdenciários foram de 436 bilhões. Portanto, as despesas com juros representaram 8,5% do PIB. Já as despesas previdenciárias representaram 7,5% do PIB. Isso sem falar nos valores significativos que representam a sonegação de impostos por grandes empresas e pela corrupção, praticada tanto pelo Estado, quanto pelo setor privado.

Existe, portanto, muito a ser explicado ao povo brasileiro antes de se realizar uma Reforma que impactará diretamente na vida das pessoas mais vulneráveis. A lógica do neoliberalismo é considerar os investimentos públicos em políticas sociais como gastos irresponsáveis e não como parte da solidariedade social necessária para o bem-estar da sociedade.

Portanto, tanto a reforma da Previdência, quanto a reforma trabalhista são políticas da cruz, porque irão afetar diretamente a vida das pessoas. São políticas que ampliam as injustiças.

Saiba mais

Nota da CNBB sobre a Reforma da Previdência

Aliança de Batistas se posiciona contra reforma da Previdência

Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) se posiciona sobre reforma da previdência e trabalhista

Temos caminhos para mudar. Um deles é a taxação sobre grandes fortunas e heranças. Por que não, tirar dos ricos para dar aos pobres. Por que não dar ao Brasil a possibilidade de experimentar a distribuição justa das riquezas?

Temos esperança na ressurreição do corpo, isso significa que temos esperança em um país que não violentará as pessoas pobres, que se orientará pela justiça e pela solidariedade.

Páscoa, tempo de reflexão! Reflexão que nos leva à persuasão e à ação transformadora de superação de tudo que gere morte. Na atual conjuntura, isso significa que, se quisermos passar pelo vale das lágrimas e fazer dele um lugar de fonte, que preserve a vida (Sl 84.6). Não podemos fugir à luta, temos que enfrentar sem descanso a nefasta política socioeconômica que privilegia o capital especulativo.

Que a Páscoa desperte em nós uma espiritualidade lúcida e que ela nos mobilize para agirmos em favor da preservação de nossos direitos constitucionais!

Diferente de Jesus, que na cruz clamou: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem.” (Lc 23.34), em relação aos que têm o poder de mudar as leis constitucionais que garantem dignidade de vida para todas as pessoas, podemos dizer que, sim, estas pessoas sabem o que fazem.

Que Deus ilumine mentes e corações para que a lucidez e o bom senso despertem consciências.

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