No Brasil, nossos desafios passam pelo avanço feroz da extrema direita fascista que está tentando destruir a esquerda, os movimentos sociais e os direitos humanos. Por isso, a luta por Lula Livre e Marielle Vive também são nossas bandeiras, pois significam um ataque frontal aos processos organizacionais. Por sua vez, “Ele Não” foi o resultado de um processo de acumulação que levou a um forte movimento espontâneo capaz de enfrentar a direita ao mesmo tempo em que dois modelos de países estavam sendo contestados. Entre as mulheres Bolsonaro perdeu, mas antes disso nós já fazíamos parte da resistência ao golpe do governo de Temer que trouxe consigo uma linha de retrocessos que agora se aprofunda. Hoje estamos mais conscientes de que quanto menos Estado houver, mais trabalho temos de fazer para garantir nossa sobrevivência.

O patriarcado e a opressão são naturais a este ordem social e, portanto, estarão sempre presentes enquanto o capitalismo continuar a existir. Neste contexto o crescimento do movimento tem a ver com a necessidade de nos unir para problemas comuns. As mulheres do mundo instalaram o 8M como a data mais importante do encontro, indo maciçamente para as ruas não só para celebrar os anos de luta e memória, mas também para denunciar e reivindicar o poder que temos. Essas mulheres socialistas dos EUA que deram a vida começaram a se organizar para condições dignas de trabalho, igualdade perante os homens e acesso à votação. O 8M tornou-se uma experiência muito forte em vários países, mas não devemos esquecer que em continentes como a África e Ásia não, porque temos a obrigação histórica de estabelecer um movimento internacional pensado a partir de diferentes contextos, e o Paro é um bom ponto de partida para pensar a estratégia de articulação.

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Desejo que possamos espalhar o feminismo para a classe trabalhadora, incluir mais e melhores práticas dentro de nossos movimentos para quebrar atitudes estereotipadas, que mais mulheres estejam referenciando espaços e que as porta-vozes sejam cada vez mais trabalhadoras. Também é muito importante que o feminismo não se torne apenas um estilo de vida individual, porque embora seja importante pensar sobre as mudanças dos processos pessoais, elas só serão transformadoras de relações sociais se não estiverem ligadas a práticas coletivas.

Sejamos sempre muito presentes de onde viemos, porque lá encontraremos a força necessária para continuar lutando, para que em nenhum momento nos desanimemos pensando que não podemos, porque nossos sonhos mais cedo ou mais tarde mudarão o mundo e a vida de todas as mulheres.

Nalu Faria é psicóloga, coordenadora da SOF e militante da Marcha Mundial das Mulheres.

Originalmente publicado em La Garganta Poderosa.