Conversas com Leonardo Boff: “O golpe está desmontando a nação”

Neste ano, o Brasil vive as consequências funestas do golpe midiático-jurídico-parlamentar perpetrado em 2016 contra a Presidenta Dilma Rousseff. Em um cargo ilegítimo, Michel Temer (PMDB) continua empenhado em desmantelar os direitos de trabalhadoras e trabalhadores de todo o país com suas “reformas” trabalhista e previdenciária.

Para comentar a crítica situação política do país, o teólogo e escritor Leonardo Boff conversou com a equipe da Popolo Filmes em abril deste ano. Em uma série de entrevistas divididas em quatro partes, Boff fala sobre o avanço da direita no mundo, a “latino-americanização” da Igreja Católica e a importância da Teologia da Libertação no enfrentamento ao capitalismo, sugere a união das forças de esquerda, com novos paradigmas e horizontes políticos mais abertos, entre outros assuntos.

Para o teólogo, o Brasil vive um golpe de classe, em que o parlamento e a justiça foram utilizados por setores elitistas e conservadores, sempre apoiados na e pela grande mídia, a fim de usar o Estado em benefício próprio, usurpando direitos da maioria da população brasileira. “Esse golpe está desmontando a nação. Está penalizando especialmente os pobres, os trabalhadores. Quem armou esse golpe foi a classe burguesa”.

Boff também pontua que um dos intuitos do golpe é fragilizar movimentos sociais e difamar lideranças. Por isso, é preciso ir às ruas para resistir ao golpe. “Se eles querem convulsão, nós estaremos nas ruas para enfrentá-los. Porque se trata do bem do país. Não se trata do bem de uma classe ou de um grupo.”

Além disso, considera que existe uma ascensão da direita no mundo e reafirma a importância dos movimentos sociais para conter o neoliberalismo radical e construir um projeto de mundo mais justo e igualitário. Abaixo, você pode assistir os vídeos na íntegra:

Parte I 

“No mundo inteiro há uma ascensão da direita. E a direita não tem sonhos, só tem força e violência. (…) Vocês são aqueles condenados a ter sonhos, porque vocês são violados, desprezados e humilhados. E a defesa de vocês é sonhar um outro mundo, não só diferente, mas um mundo necessário.”

Parte II 

“A gente não deve esquecer que durante trinta anos vivemos no inverno eclesial. Dois Papas conservadores que pregavam doutrinas. E esse Papa vem e diz: “Jesus não veio criar uma religião, tinha muitas na época. Ele veio nos ensinar a viver, sermos solidários, um perdoar o outro. Criar uma rede de vontade de transformação do mundo”. Essa idéia vem confirmar tudo o que a Teologia da Libertação há trinta anos vem dizendo. (…) E está escandalizado os europeus que dizem: “Agora quem assessora os Papas são os teólogos da libertação!” 

Parte III

“Esse golpe está desmontando a nação. E está penalizando principalmente os pobres, os trabalhadores. (…) É um golpe de classe que usou o parlamento, usou a justiça, para novamente ocupar o Estado e para se beneficiar dos grandes projetos nacionais, fragilizar todos os movimentos sociais e difamar as lideranças. (…) É um golpe contra o povo brasileiro.”

Parte IV 

“Nós podemos fazer essa Frente Ampla. Porque se não fizermos eles vão realizar o projeto deles até o fim. Desmontando a nação, fazendo dela um agregado menor, associada ao grande império, perdendo a nossa soberania, um projeto nosso. E somos um dos poucos países do mundo que pode ter um projeto soberano pela riqueza ecológica, pelas aguas, por um povo inteligente e criativo aberto ao mundo. Nós temos todas as condições. E somos a sétima economia do mundo, com um mercado interno enorme, capacidade de industrialização… mas mais ainda de criar uma produção ligada a natureza, que respeito os ciclos. (…) Nós não podemos renunciar a essa base que nos permite um país soberano, aberto ao mundo, que pode ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro.”